Sábado, Maio 10, 2008
Numa noite fria, dessas que prediziam o inverno ela se perdeu no sorriso do gato de Alice... Ela sabia que não reagia bem a declarações extremadas nem a convites à queima-roupa, andava distraída naqueles dias arrumando gavetas e dizendo adeus por várias e várias vezes. Ela se lembrava da primeira vez em que havia feito isso, aos quinze ou talvez dezesseis anos, quando tirava uma caixa de camisa debaixo da cama cheia de cartas e rasgava... e agora, agora ela fazia a mesma coisa. Ela já havia limpado a caixa de mensagens do celular, os e-mails dos últimos meses e os números de telefone, e ela estava assim, na tarefa de apagar pessoas quando ele lhe sorriu. Ela sabia que não reagia bem a sorrisos, nem a gestos insistentes, costumava ser arisca, estava numa fase assim, mas, enfim, distraída que estava naquele momento, baixou a guarda e ele avançou.
Numa noite fria, dessas que prediziam o inverno, ela se perdeu no sorriso do gato de Alice...Ela bem que tentou fechar os olhos, mas, de olhos fechados ela também o sentia, sim... o olhar tocava a sua pele. Os caminhos conhecidos por onde ela costumava fugir agora tinham labirintos e alçapões e, quando ela escorregava ou se perdia, lá estava ele, o sorriso.
Ela, ela que no dia seguinte costumava fazer conjecturas e, normalmente se afastava, não conseguiu, ele fugia a toda e qualquer linha de raciocínio conhecida, de repente, tudo o que ela havia aprendido não valia mais nada.
Ela prezava a sua liberdade, mas agora o queria por perto
Ela não gostava que invadissem seu espaço, mas agora ela queria que ele o fizesse
Ela gostava de ter o controle... e de repente já não tinha mais.
Bem que ela tentou se proteger daquele sorriso, mas, quando ele sorria assim, daquele jeito, ela se desarmava, mudava o tom da voz e perdia nitidamente o controle das coisas. Sim... quem a conhecesse antes daquele episódio poderia afirmar que ela estava visivelmente mais desastrada, menos apegada as suas futilidades e, estranhamente mais dócil. Já não fugia mais, já não reclamava mais o controle, e nem fazia a mínima questão. Ele agora tinha a melhor parte dela, ele tinha aquela parte que ela não mostrava pra ninguém... ele a tinha frágil e entregue, ele tinha saltado a faixa amarela quando ela se distraiu.
O que será? O que será que tem aquele sorriso? O que se esconde por detrás do sorriso do gato de Alice?
SORAYA MEDEIROS
Postado por Eu mesma às 8:21 PM
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